E lá vem o Estado falar de educação...


“Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso.”

Na ATPC anterior (isso já em março em uma das Unidades escolares na qual leciono) tivemos a apresentação seguida de votação de um projeto político pedagógico do governo federal, nossa escola fora uma das indicadas em nossa Diretoria de Ensino para inclusão neste projeto, e assim nossa diretora nos apresentou.  Tratava-se de um projeto de ir inserindo aos poucos a escola no sistema de ensino integral, com atividades culturais/pedagógicas durante o período de pós-aulas.

Confesso, não pude conter a ansiedade e o repudio diante de tal projeto. No dia anterior havia lido um artigo chamado “O roubo da biblioteca”, tratava de uma questão que deveria ser prioridade desse Estado que busca projetos paralelos para educação em tempo integral. Deveria. Cerca de 80% das escolas no país não tem bibliotecas. Isso sim é prioridade de um governo que realmente zela pela educação. Mas há outros agravantes que me fazem recorrer a frase de Brechet, um de meus autores favoritos, a questão das salas de aula super lotadas. Isso é fordismo. Produzir em massa e gerar lucros. Aceitar a escola como depósito de crianças para manter seus pais ativos no mercado de trabalho. Simplorizar a precária estrutura social e escolar por estar ou não presente na escola, desconsiderando completamente a conjuntura histórica. Belo projeto político pedagógico. Durante esse início de ano letivo busquei usar algumas metodologias diferenciadas para trabalhar com meus alunos de nossa escola. O data show foi uma delas. Sem uma sala própria sua montagem durante a aula vira um calvário. Isso se o equipamento funcionar de primeira, o que não me ocorreu em nenhuma das vezes. Cabendo a uma aluna do “Acessa” ter que me ajudar. 40 minutos de minha “aulinha” foram queimados. Por falta de estrutura. E não me refiro unicamente a esta unidade escolar. Isso é um problema geral. O que agrava mais ainda a simples proposta de tal programa.
O material escolar (apostila e livro didático), todo ano é entregue com atrasos. E quando chegam, não chegam em número suficiente.
É essa a educação que está sendo levada a sério? Será por desconhecimento desses fatos mencionados? Seriam eles tão misteriosos? Tão ocultos? Tão recentes? Será que a educação chegou a tal pé diante da “sob a culpa” de professores novos?
Ou seria simplesmente reflexos da pavimentação neoliberal, meritocrata e mercadológica que a educação sofreu e se moldou no regime militar? Aos que não se incomodam com as desigualdades como nós, ainda bem que não somos companheiros, eu digo que meus alunos são mais do que números de SARESP, IDESPs e estatísticas com fins de atrair investimentos privados ou empréstimos de fundos internacionais. Eu sei o nome de cada um. Eu vejo seus olhos. Sinto-os. E não engulo tal exclusão por trás desses programas.
Será que um filho de político come 0,90R$ por café da tarde? Será que o filho de Reinaldo Azevedo, que culpa a categoria de professores pelos fracassos da educação, come só este valor por café da tarde? Chega de MCDonaldizar a educação. Chega de clientelizar essas crianças. Chega de trata-los como consumidores de classe C ou D.
 Se tal programa der errado, quem assumiria os erros? Esses indivíduos do estamento ou seria jogada a culpa na gestão escolar?
Para nosso alívio o projeto foi vetado. Para meu medo a frase “a educação integral é questão de tempo” ecoou. Por favor, chega de projeto para banco ver. Chega de tratar os alunos como “clientela”. Chega de buscar medidas messiânicas e passamos a olhar o todo.
E para minha maior tristeza, tem gente querendo debater “redução da maioridade penal”... Parece brincadeira, mas é sério...



Prof. Fábio Alexandre Tardelli Filho.

1 comentários:

Oswaldo (Duco) disse...

Pois é , Fábio Tardeli! A educação pública está abandonada pelo poder público, o qual só consegue enxergar a escola como uma fonte de produtividade para o grande capital, vide às suas políticas (neoliberais). Diante do cenário, só mesmo com muita luta e consciência.