A camada burocrática do sindicato.

A intensa e constante precarização do trabalho docente nas escolas públicas estaduais de São Paulo, a falta de interesse da camada governante em querer mudar a situação crônica em que se encontra a nossa educação, os baixos salários, escolas caindo aos pedaços, bem como a estratégica (para quem?) abertura à entrada do capital privado para abocanhar lucros no setor educacional, algo, diga-se de passagem, que o nosso governo estadual (PSDB) faz de forma conivente e consentida, é temerário. Mas o que me cabe aqui, numa reflexão rápida, é indagar alguns pontos da atuação de um instrumento de luta dos professores que, teoricamente, deveria ajudar (nós, os docentes) a combater toda essa onda perversa que nos assola. Refiro-me ao sindicato. A APEOESP, que é o sindicato dos professores do Estado de São Paulo, um dos maiores da América Latina, vem atuando de forma burocratizada, cínica e, cada vez mais, atrelada a um Estado que pouco se importa com a educação. Pauta-se por conciliações e pelo arrefecimento das lutas dos professores. A Artsind – PT-CUT e o PC do B – CTB, com maior peso a Artsind, corrente majoritária dentro da APEOESP, tem, na figura de Maria Izabel Noronha, vulgo Bebel, o total domínio das pautas e das negociações no sindicato. As encaminham, em fato, como bem entende. Pior, faz conciliação e negociação com o inimigo (PSDB). Na última greve de 2013 ficou bem claro como as coisas se dão! A greve terminou e começou como bem achou melhor a camada burocrática, comandada por Bebel e Cia, apenas para fazer pose de sindicato combativo. Utilizou-se e utiliza-se o sindicato (a burocracia) para degastar o governo estadual de Alckmin, uma vez que o sindicato encontra-se atrelado ao PT, e, nesse sentido, pode-se dizer que a greve foi um instrumental para uma campanha eleitoral favorável ao PT (e é bom que se diga que o PT mantém as linhas políticas neoliberais do PSDB, e nisso a APEOESP –burocracia- nada tem a declarar), deixando de lado as reivindicações dos professores. Não conseguimos 1/3 da jornada extra-classe, nem o direito dos professores categoria “O” usarem o IAMSPE, nem o mínimo do DIEESE. Quando os professores municipais de São Paulo, na época, entraram em greve, Bebel declarou que cada greve tinha a sua pauta, que uma luta nada tinha a ver com a outra, preferindo dar “encaminhamentos finais” à greve dos professores estaduais, atuando, dessa forma, contra a unificação das lutas, contra o fortalecimento da greve. Lembremos que o governo municipal de São Paulo encontra-se nas mãos do PT (Fernando Haddad). Bebel, há mais de quinze anos que não entra em uma sala de aula, que não atua como professora, não sofre as agruras diárias de um cotidiano escolar alienante, precarizado e brutalizado. Está se consolidando um sindicato com privilégios, sustentando carreiristas políticos que ficam anos e anos sem trabalhar. Um sindicato burocratizado, distante da base (professores e funcionários da escola), constituindo uma entidade de conciliação e de amortecimento da luta. Preferindo usar os professores como massa de manobra para interesses de seu agrado. Instrumental, com fins eleitoreiros. Assim vive a burocracia sindical, com suas remunerações e joguinhos de faz de conta, que diz se importar com as mudanças na educação, com as melhorias, com a luta. Não é a toa que, de um sindicato que já foi combativo, hoje sobra uma entidade desmoralizada ante a grande maioria dos professores, e desacreditada para as lutas. Um sindicato que, dominado por uma burocracia, não procura fazer formação de base, não procura atuar junto à base, não procura sequer ouvir as propostas da oposição (embora haja críticas a se fazer a própria oposição dentro do sindicato) no que diz respeito a uma reformulação do sindicato, entre outras questões. A situação se agrava, e muito! Ideias do tipo: “Entrei no sindicato só para ter benefícios como advogados, colônias de férias, descontos nisso e naquilo”, “greve é perda de tempo e de nada serve”, “a greve só atrapalha”, “perdi salário por conta dessa bosta de greve” e coisas do gênero, falas que, vez ou outra, são ditas por professores, mostra o quanto o sindicato foi se distanciando da base, do cotidiano escolar, de uma preocupação em formar uma classe docente crítica e atuante. Um sindicato preocupado em “utilizar” os professores como bem entende, usando-os como uma massa manipulável. Se temos uma grande quantidade de professores cansados, desmotivados, céticos e conformistas, isso se deve, em parte, pela atuação de um sindicato burocratizado e alheio aos reais interesses da educação pública. E esse cenário continuará enquanto não houver uma transformação do sindicato. Ou seja, deve-se, entre outras coisas, lutar contra a burocratização, por um sindicato autônomo, controlado pelos trabalhadores, democrático e combativo.

1 comentários:

Oswaldo (Duco) disse...

Lá no grupo tá revisado - facebook- grupo Residuos tóxicos(erros de português) qualquer coisa, peço desculpas. Já em relação às idéias, é apenas um ponto de vista. Debatam, concordem, discordem!