"Rotting" - Sarcófago


People are blind with something
Can't make happen their desires
All from their god stinks
The reason must talk higher

Jesus is rotting
Jesus now died

The heart of sinners
Becomes too false
In their sacred week
They remember christ

Now the sinners are celebrating
His false resurrection

Why do you believe in christ?
Why do you believe that he isn't dead?
Why do you believe in those things?
Why do you believe in hell?

I just can say to you
That your lord jesus christ
Had a cruel destiny
And now you just can cry

Your hope is in vain
He will never come back
Jesus now burns in pain
'cause he found death
Jesus is rotting
Jesus now died


"Não temos certeza quanto aos outros, todos desconfiamos de todos graças a uma palavra que instituiu esta merda social. Essa palavra‚ MORAL. A moral impede que falemos com todos, que nos relacionemos sexualmente, que os pobres digam a verdade. A moral nos impede de pensar, atuar e falar. Estamos sob a moral dos ricos, que preferem a cultura idiota da televisão à cultura do seu povo e de sua terra. A moral do cristianismo que nega a vida em favor do sofrimento e de um futuro incerto. Não queremos ser santos, enclausurando-nos e aceitando o destino como imutável. Nós somos guerreiros, devemos lutar por um destino melhor para nós, nosso povo e nosso país.
Então erga sua cabeça e liberte-se de sua religião, moral, sistema, ideologia dominante e todas essas correntes que o prendem a esta forma insignificante de viver. Ricos: o seu dinheiro só serve para forjar o seu suicídio e instigar o povo que você tanto explora, revolução e conseqüentemente o seu fim. E por isso que queremos guerreiros, e não covardes que têm medo de ir de peito aberto contra tudo que está erroneamente instituído neste país.
Cristo‚ o símbolo máximo desta covardia, pois se deixou matar pela classe dominante, assim como o povo faz hoje, se deixa matar pela ideologia da Igreja: o capitalismo. A moral nega a vida. "Só os que dão sua vida em batalha espontaneamente para libertar seu povo do opressor serão aceitos no Paraíso" (filosofia ) contraria a cristã que recomenda agachar-se diante da burguesia que nos impede de pensar).
Hoje, se você sentiu-se agredido com este manifesto, só posso dizer-lhe que lamento muito, pois você está enfermo de moral e não possui livre pensamento. Graças a isto você se implode, se suicida, carrega uma cruz que não a sua, se sente frustrado e trabalha como um escravo para os donos dos meios de produção que manipulam o dinheiro, os meios de comunicação, o governo de centro e de direita e que‚ mais triste: manipulam você.
Por isso novamente digo: liberte-se, grite e lute, pois nós estamos asfixiando a esperança de ver esse povo, esta terra e este Brasil realmente grandes!"
Manifesto por Wagner (Sarcófago) na contra capa do disco Rotting 1989


Creio que depois deste manifesto pouco precisa ser dito em relação à letra de Rotting, mas há algumas questões importantes a serem analisadas, tentarei ser breve (o que não é uma qualidade minha). Em 1964 o Brasil se deparou com um golpe militar, que visava barrar o governo de João Goulart, vulgo “Jango”, na realização de algumas reformas (Reforma Educacional, Urbana, Agrária e Fiscal). Não entra no mérito de nosso debate a questão populista de tais medidas, mesmo porque abriríamos um novo debate sobre o que é o populismo que permeia nosso estamento burocrático e fugiríamos demais. Mas no quadro da história brasileira é importante lembrar algo que a mídia “esqueceu” (omite) que é o apoio das classes médias cristãs ao golpe de 64 (que ficou marcado como o período mais sombrio seja pela corrupção, fiasco econômico, cassação dos direitos civis) através da “MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE” (no Rio em 64 essas marche teve algo em torno de 1MILHÃO de participantes!!!!!! Obs: Não há dados referentes a manifestações populares contra a própria ditadura que contem com esse número de pessoas aderindo a tal causa).


(Foto: Marcha da Família com Deus pela liberdade)
Ou seja, o núcleo de minha análise está justamente para a questão da apatia, conservadorismo em torno das religiões cristãs, que como Wagner bem citou nesse trecho é um estimulante da apatia perante a estrutura social estabelecida.
Durante a ditadura militar é importante também recordar que não somente parte da grande imprensa nacional apoiou (Folha) o golpe e cresceu com ele (Globo) como os setores religiosos, leia-se neo pentecostais, denunciavam para a polícia toda reunião sindical, estudantil e reuniões que representassem alguma “ruptura” com o modelo socioeconômico neoliberal meritocrático (também é importante lembrar que para essas religiões o mérito é a base de sua filosofia, o mérito da salvação, o mérito da conquista...). O momento histórico da ditadura serviu para consolidação dessas novas igrejas no cenário nacional afinal ideologicamente eram bastante aliados e como já diria a direita brasileira em tom de ironia: “a ditadura só perseguia vagabundos”.

A ditadura acabou em 85, mas as conseqüências hoje são bem assustadoras, já que os grupos religiosos que se consolidaram nos anos dourados da ditadura têm reinado de forma ampla no país. Salvo o STF poucos os confrontam, vejam o caso da atual presidente Dilma, quase sofreu uma virada para o candidato José Serra durante as eleições graças a correntes via internet devido a declarações dela favoráveis ao casamento homossexual e principalmente pela frase “nem Deus me impede de ser presidente” (o que gerou uma campanha medíocre contra ela nas redes sociais, emails e afins), entendam independente de Dilma ser capaz, de seus projetos serem interessantes ou não, chegamos ao ponto de ver nosso povo escolher um presidente por atos/frases de cunho religioso.
Aliás, a eleição do Collor também nos remete a lembrar desse absurdo e espetáculo de ignorância nacional. Quem não se recorda que no segundo turno das eleições de 1989? Quando vai ao ar que, o até então líder das eleições, Lula era ATEU!Um crime terrível a uma nação que busca glória do senhor ao invés de igualdade e justiça social, como resultado o povo elegeu Collor. E a partir de sua eleição, o governo dele é bem conhecido...

(Foto: Collor em campanha)

Agora temos Silas Malafaia querendo concorrer às eleições como prefeito do Rio de Janeiro. Um homem que move 40mil pessoas para Brasília protestar contra uma lei que especifica homofobia como crime (não que isto já não esteja garantido na CF...), mas que não move 50 pessoas para ler um livro que não seja balela religiosa... Esse cara pode concorrer e não duvido que ganhe às eleições no Rio.
Não se trata de atacar religiões de forma gratuita, apenas estou buscando uma reflexão com base em dados e pesquisas históricas, mesmo porque indo beber nas fontes da história veremos algo que venho defendendo há algum tempo: o projeto político(não é nem projeto religioso) dessas religiões que infestam a política nacional, lembram muito as bases do nazismo alemão da década de 30. Querem ver?
Obs.: É bom observar que esse é um paralelo “brutal” e improvisado que estou fazendo; religião é interpretação, não vamos cometer o erro de generalizar, assim como há marxistas ortodoxos há caras como Canevacci que nos inspiram em projetos como esses (como o nosso blog), há neoliberais ultraconservadores e há aqueles que defendem o neoliberalismo com base em justiça social, apáticos e os que não vão se engajam com manifestações por falta de tempo ou complicações de saúde, há cristãos ortodoxos (nada haver com a igreja russa) e cristãos extremamente humanos...

· * Uso da mídia e propaganda. O uso da propaganda pelo regime nazista foi o motor de sua política, enquanto disseminavam uma suposta luta por “um novo mundo, muito melhor” destruíam as bases dos direitos humanos de outras etnias e grupos sociais que consideravam subversivos com o aval do povo que se iludia em meio a pinturas, esculturas, músicas que exaltavam a superioridade germânica. O contexto histórico é diferente, já que é a partir da segunda guerra mundial que haverá o apogeu do capitalismo (década de 60) e consolidará de vez a sociedade do espetáculo e consumo. Mas o poder de através da propaganda comover massas ainda é semelhante (apesar de diferenças históricas). O mundo ocidental com sua indústria cultural modelou a mentalidade do homem contemporâneo para o culto do maior (maioria), do vencedor, do espetáculo e assim a substituição de imagens sensíveis por supra-sensíveis. Os “shows da fé” têm o aval popular já pelas nossas raízes históricas cristãs, portanto só por já estar supostamente relacionada a Deus já há o elemento chamativo que somado o fenômeno da indústria de agregar milhões, cantando, rezando, expurgando o demônio em mistura de mega show com a luta entre o bem e o mal de Holywood. E dessa forma hoje vemos a música gospel como o estilo musical que mais vende no país (ultrapassando o rock que agrega o rock pop, emo, metal, punk, grunge, HxCx e fins, que até então era o primeiro, e outros estilos mais populares como sertanejo e axé), vemos o aumento de canais de TV, jornais e rádios vinculados às igrejas... Um espetáculo de imagens como um dia o nazismo foi...

(Foto: Propaganda nazista utilizando-se de imagens de crianças inocentes e puras, incentivando o ódio e destruição)


· * E o ponto mais crucial e perigoso: destruição das bases democráticas que garantem por lei os direitos fundamentais. Em meio à comoção e aval popular mo nazismo executou milhões de eslavos, ciganos, judeus... Em nome de “um novo mundo” para os alemães... E os Cristãos têm feito algo bastante semelhante quanto aos homossexuais, religiões afro-descendentes, outros próprios cristãos (é importante lembrar que em seu livro Edir Macedo chama os católicos de cristãos caídos) e outros grupos como nossas culturas extremas. Aproveitando-se de aspectos culturais que tem origem na figura do homem branco dominador, patriarca, cristão e com capital externo em suas mãos, somado com os elementos da sociedade do Espetáculo (tópico de cima), esses grupos politicamente organizados tem tentado mexer/ destruir na garantia dos direitos fundamentais prevista no artigo 5° da CF. Provavelmente não vão conseguir, por uma questão de organização do STF, que mesmo em muitos momentos se omitindo como na questão de políticos religiosos em um Estado laico, para evitar um vexame em escala global. Afinal a alegação dos neoliberais de que seu sistema é bom, justamente se baseia na liberdade individual (a mesma que eles usam para alegar a desigualdade social, mas isso é outra história e fica para um próximo texto!).

Fazendo um paralelo com a apatia da qual Wagner denuncia em seu texto, eu me recordo de uma aula que ministrei nesse 2° bimestre, em uma sala do colegial, que falava sobre independência nas Américas e, animado, olhei para a sala e perguntei: “Quem organizou a luta de independência?”, e um aluno respondeu “Deus.”, “Deeeeeeus?” indaguei, e já emendei “Deus pega em armas e inicia uma revolução?”. Para finalizar ele disse “A revolução só da certo se Deus quiser”... Marx diria “a religião é o ópio do povo”... Sem dúvida tem sido, mas inclui-se também o “motor da meritocracia, individualismo e da apatia social”

Fé e religião são coisas muito distintas. Mas independente disso seu lugar é bem longe do campo político. Um governante deve governar e ser justo para TODOS (incluindo seus opositores, porque não?)! Seja dentro da sociedade neoliberal, bem estar social, socialista, feudal... E não somente para os seguidores de uma seita ou religião!Finalizo repetindo as palavras finais do texto de Wagner.

Comentários

Bianca Obregon disse…
o cenário do manifesto de Rotting tem muita relação com 2018! Isso só prova que a história se repete. Pior ainda é ver pessoas que curtem o metal extremo (no estilo de sarcófago) apoiando o candidato (agora eleito) que tem tudo que o protesto de Wagner criticava em 89.

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