Entrevista com a banda Hazy Hamlet


Desde que me engajei no underground(a uns 6 anos +-) eu tenho ouvido que as bandas de "heavy metal tradicional" são "idiotas por falarem de fadas, elfos, medievalismo", "machistas", "homofóbicas", "a ideologia delas é igual a pagode" e todo tipo possível de paradigma que se construiu em torno da imagem de algumas atitudes piegas que tem origem em bandas e fãs radicais como por exemplo do Manowar. É engraçado ver isso de "rotulação" e "construção de paradigmas" vindo de gente que jura acima de tudo ser libertário e envolvido nas culturas undergrounds. Tão massacradas pela cultura de massa, mídia, academicismo(eu podia citar uns 10 grandes autores, que analisam de forma ortodoxa TODAS as culturas juvenis pós segunda guerra, como alienada, consumista, fetichistas e blá blá blá) algo que por sinal como o respeitoso antropólogo Massimo Canevacci(talvez o melhor e maior nome hoje do academicismo em relação a culturas extremas, por se engajar com elas e não trata-las de forma taxativa e cristalizante) chama de "herança negativa do séc passado, generalista e universalizante". Essa entrevista do Hazy eu fiz questão de comentar por isso, porque quando fala-se em indústria cultural, mainstream e underground a banda mostrou um posicionamento galgado na importância da cultura digital para democratização e principalmente pela fratura que ela leva nas culturas contemporâneas, dando assim a origem às culturas extremas que são líquidas e intermináveis, rompendo com culturas undergrounds que já estavam fadigadas pelo seu ortodoxismo nada diferente do academicismo que as chama de alienadas(Sim, isso são palavras minhas, mas a interpretação da banda sobre essa nova mídia é a base desse pensamento de cultura eXtrema).Um Grande parabéns ao Hazy e ao Arthur, por falarem tão francamente!




Fábio – Pessoal do Hazy Hamlet gostaria de agradecer por nos conceder essa entrevista, é uma honra. E indo diretamente para a questão da banda gostaríamos de saber sobre a questão da atual pausa da banda, e quais os planos futuros do grupo?

Hazy Hamlet (Arthur) - Olá, Fábio! A honra é toda nossa! Bem, para os que ainda não sabem, a banda tem estado em pausa desde o início do ano. O primeiro motivo foi minha mudança para Curitiba. Acredito que a divulgação flua mais rápida estando na capital do estado. Mas o motivo mais sério é um problema com minha voz que se apresentou - piorando a cada dia - durante todo o ano passado, e que me forçou a procurar um especialista no começo deste ano. É um problema digestivo simples mas que estava causando grandes danos à minha laringe. Atualmente estou tratando, mas a recuperação é demorada, o que impossibilita uma previsão exata de retorno. Nossos planos são de retornar aos palcos em agosto ou setembro, mas tudo depende de como meu vocal vai se comportar. Sinceramente? Ficar parado é um saco!






Fábio – A banda tem no planejamento algum novo trabalho?


Arthur – Temos sim! Já tínhamos experimentado dois novos sons nos últimos shows, com ótima aceitação. Agora tenho aproveitado que estou parado para compor novos riffs e ideias aqui em Curitiba, assim cada vez que vou para Maringá ensaiar, aproveitamos para trabalhar em algum som novo, agregando ideias de todos. O plano é começar a gravar na virada do ano e ter um novo álbum por meados de 2012.





Fábio – Na parte lírica da banda nota-se uma preferência por temas épicos, batalhas e honra. Vocês poderiam nos apontar alguma letra em particular que lhes destaca mais?


Arthur – Por tocarmos um Metal Tradicional, é natural que utilizemos alguns temas épicos no disco, principalmente para tratarmos de morte, guerras e a degradação humana. Muitas bandas de nossas influências utilizavam-se disso. Neste contexto, acredito que posso destacar a letra de Chariot of Thor, que aproveita uma metáfora da mitologia nórdica para fazer uma grande crítica às guerras que a humanidade alimenta. Thor, além de Deus do Trovão, era conhecido como o “Deus Protetor”, por ter sido incumbido a proteger Midgard – a terra dos humanos. Mas como protegê-los se seus maiores inimigos são eles mesmos? Uma triste conclusão é tirada, a de que este planeta só terá paz quando o último homem deixar de viver. Mas também temos letras não épicas, e continuaremos a levar este equilíbrio ao próximo disco.




Fábio – O que vocês pensam da relação mídia e arte musical?
Arthur – Não existe arte sem divulgação, isso é um fato, e quando se trata de música alternativa, a mídia tem papel fundamental – embora nem sempre a grande mídia dê espaço “real” para artistas do underground, empurrando-os para os cantos e destacando sempre os mesmos artistas do mainstream. Felizmente nos últimos anos a ascensão de ferramentas sociais na Internet e, consequentemente, do espaço e da velocidade no fluxo de informação, tem aberto muitas portas para revelações chegarem ao público. Graças a isso, o Hazy Hamlet tem levado seu trabalho para o mundo todo, acumulado dezenas de entrevistas e chamadas de rádio, participado de eleições sobre o álbum – e isso tudo graças a iniciativas de uma nova geração de redatores online e da mídia paralela. Felizmente esse privilégio não é exclusividade do Hazy, e espero que isso continue se expandindo e alcançado cada vez mais artistas batalhadores, em todos os estilos.



Fábio – Forging Metal é sem dúvida um ótimo trabalho. Vocês consideram que este seria o principal momento da banda, ou há algum que vocês consideram mais crucial na carreira da banda?
Arthur – Primeiramente, muito obrigado pelo elogio! Não, acredito que Forging Metal tenha sido realmente uma conquista muito maior do que imaginamos que poderia ter sido e o grande responsável mesmo pelo reconhecimento do grupo. Não tenho dúvidas de que é o momento mais importante de nossa história.

Fábio – (É uma brincadeira para você dar nota de 0 a 10 para as 3 bandas que indico e comentar sua razão de tal nota, depois você escolhe uma banda que gostaria de falar e atribua uma nota e comentário a essa banda)
Grave Digger – 9 – A banda que é o maior exemplo de recuperação que já conhecemos. Começou bem, atravessou um grande declínio e o fim, encontrou forças pra recomeçar e hoje é de enorme influência para o Metal épico no mundo todo. Não é a única influência do Hazy, mas certamente está entre elas.

Amon Amarth – 9 - Mesmo não tendo iniciado com instrumentistas virtuosos e utilizando-se de um tema já muito batido, apostou numa sonoridade com muito feeling e sempre realizou seu trabalho musical e lírico de forma magistral, ascendendo de forma gradual e ganhando reconhecimento de forma justa. É para o Hazy o maior exemplo de que o clichê bem feito é muito mais atrativo que a masturbação de instrumentos ou uma inovação que soa como merda.

Angra – 6 – Um grupo de excelentes músicos.


Dreary Lands (banda escolhida) – 8 – Um dos melhores grupos nacionais de Heavy Metal, exemplo da excelência musical brasileira - que sofre, algumas vezes com má produção, quase sempre por falta do próprio reconhecimento do público, tal qual as excelentes Dominus Praelii e Steel Warrior. Estes grupos deveriam estar lá fora, fazendo turnês constantes e representando com orgulho o Heavy Metal nacional.


Fábio – Gostaria de agradecer pela atenção, eu gostei muito de sua análise em relação aos veículos de comunicação paralelo, é de fato difícil encontrar tal consciência, muitas bandas de nosso cenário ainda esperam ser o novo "Iron Maiden" ou "Metallica"! Prabéns mesmo, e estamos muito ansiosos por um novo trabalho da banda!



Arthur – Nós que agradecemos por esta excelente oportunidade de falarmos um pouco do sumiço da banda e divulgarmos em que estamos trabalhando. Espero estar de volta logo aos palcos e que todos curtam as novas músicas. Apoiem o metal nacional! Obrigado, um enorme abraço e até a próxima!


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