"Violência é Real" - Dorsal Atlântica


As coisas começam sem saber direito o porquê
Hoje você passa e não vê
Que amanhã vai ser você a próxima vítima
Que não tem culpa dessa situação

Viajando na estrada, um ruído seco
Dentro de um ônibus atiraram em um inocente
Por pura ignorância
Ninguém esperava sentir como a vida é tão fugaz
E a morte ronda todo cheiro de carniça

Primeiro dia do ano novo
Primeiro dia de nossas velhas vidas
A realidade consegue ser
Pior do que a pior de nossas fantasias
Você sente que isso ainda não te atinge
Se sente seguro em um casulo de seda

Os passageiros se organizaram e socorreram o ferido
Sem nunca terem se encontrado antes
Um temeu pelo outro

Você descobre o que é solidariedade
nos momentos mais difíceis
Pelo menos uma vez eu tive esperança
E como é bom acreditar nisso

Até quando vai durar
Esperar morrer para agir?
Lutar, nossa obrigação para mudar
Não é história, cara
Violência é real

Esses exemplos do presente
precisam mudar o rumo do futuro
Terminar bem aliviou nossas almas mas
deixou uma questão no ar
Se deixarmos ficar como está
Nossa vez também vai chegar
Porque o que destrói a raça humana é a
incompreensão de ser humano.

Depois do ocorrido no Rio de Janeiro acho muito pertinente e acima de tudo necessária uma interpretação séria e profunda reflexão sobre o que essa música da também carioca Dorsal Atlântica relata. A violência existe por mais distante que possa parecer olhando pela televisão; ela nos cerca apesar da ilusão vendida pela mídia que isso é coisa da favela. Carlos Lopes vai além e nos fala que mais do que real, a violência é inerente a nossa sociedade e que no lugar de lamentar-nos devemos usar esses ocorridos como forma de planejar o futuro, e essa transformação só será alcançada através da luta. A total falta de capacidade estatal se mostra nos momentos em que a população mais precisa dele, e apesar de serem julgados pela mídia conservadora como revoltados irracionais quem reflete sobre as raízes dos problemas sociais e apontam suas soluções não é o estado, muito menos a mídia elitista, mas sim (neste caso) uma banda de metal extremo.
Obs.: Texto originalmente publicado pelo ex-colaborador Renan Bonassa.

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