Entrevista com a banda O Mito da Caverna crust/doom!





Essa é uma daquelas entrevistas que sinto orgulho de publicar. A liberdade de poder perguntar sem ter medo de vir “bomba” do outro lado... É uma magia única! Quando escrevi essa entrevista decidi “caprichar” e extrair o máximo possível de conhecimento desses caras haha, fiz isso por nós do Resíduos e por aqueles fãs do subterrâneo pensante!
Eu diria que as respostas do Augusto estão fascinadamente tão cheias de signos e simbolismo, rupturas e informações que parece uma letra do Mito. Haha. É de pirar!
Uma entrevista que vale a pena parar, sentar e refletir. Ou melhor, uma entrevista que pode nos levar, mesmo que, por instantes a sair de nossa caverna...

A título de curiosidade indique as 10 melhores e mais regulares bandas de qualquer gênero do rock pesado:
Top 10:
(Augusto Miranda...) Cara, confesso que essa, eu pularia, pois se restringe ao som pesado... O Tuna comenta que “Se a subversão é um punheta, a liberdade é a filha vizinha”... Então, creio que subverter a ordem aqui também vai ser bem visto, certo? (risos [ desculpa esfarrapada pro fato de que sou ruim de conteúdo musical...] )
Façamos assim: Te dou dez sons que figuraram muito conosco, até agora, ok?
Obvio que Monarch e Corrupted nesse segmento em que nos descobrimos seria estranho não os citar... Muito agrada aos rapazes nas cordas o Dead Can Dance e não citar Neurosis e Isis também não faz sentido, assim como não citar Insect Warfare e Assück. Não estranhe se houver algo de muito hipnotizado quando disser que o tanto o D.E.R quanto o Noala são grupos que se você não conhece, há alguma falha de prioridades...
Pra encerrar, acho que o restante da banda talvez me queira crucificar, mas o trabalho de Belchior têm me afetado e muito. E aqui, acho que fica claro pra qualquer um que transcendi os limites do Som Extremado... mas adentrei no campo das idéias extremadas... O cara, no álbum “Alucinação” mostra que entendeu esse tempo em que vivemos e lugares em que estamos... (Foram dez artistas...?)

  RxTx (Fábio) - Primeiramente não posso deixar de perguntar sobre o vínculo do nome da banda O Mito da Caverna com o lendário texto de Platão. Essa relação existe?
(Augusto Miranda...) E a gente, primeiramente, precisa te deixar saber, amigo, o quanto nos deixa elétricos estar com vocês nessa página da Resíduos...
Não é puxação de saco, sabe. Vou precisar mesmo me conter (vai ver que sofro do mal da falta de bom senso quanto a falar muito... Mas são sintomas de felicidade!)
Vamos à Questão!
Inicialmente tivemos certo receio, sim, de nos considerarem, resumirem até, a meros “platônicos” (Acho absurdos os argumentos do tipo “não me importo com o que pensam ou dizem sobre mim...” Absurdo!), mas a alegoria de Platão ainda vigora, ainda é fato, nos pareceu um nome até bem natural... Me questionaram uma vez, “ e você? Já saiu da ‘caverna’, Augusto...?” – bem, é uma migração de salmão: Acho difícil alguém sair e permanecer vivo por muito tempo... Mas continuamos tentando assim mesmo! – Hoje penso que se o nome da banda versasse com conteúdos de “A Guerra do Fogo” ou “The Gods Themselves” (Asimov) daria na mesma, entende...?
Existir a relação existe... Existe, sim... Mas apenas com a alegoria e nada que busque a escola específica de Platão...

  RxTx (Fábio) - Em seu myspace vocês comentam que estão em estúdio preparando algo, vocês poderiam antecipar alguma coisa para nós?
(Augusto Miranda...) Nosso “Myspace frio”, você diz, não? (risos [é que tá há um tempo sem muita novidade por lá...]), mas sim, estamos gravando sim, estamos com o pessoal (lindo) da Karasu e da Equivokke Records nessa, será um trabalho de uma única faixa (sim, temos respeito por quem curte nosso trabalho [risos]...), chamada “Condenados da Terra” – que busca referências no trampo homônimo de Frantz Fanon (“Les Damnés de La Térre”) para traçar observações, lamentos, desejos e prenúncios a muito do que envolve todo esse maravilhoso e assustador vagalhão recente de insurreições de nível planetário...
NÃO. A historia não acabou. (Me lembrei do Lumpen: “Agora você treme ao ver que o fim da história não chegou/ Agora você treme ao ver que a história não chegou ao fim...”) – Ainda quanto à parte lírica, vale mencionar que nosso chegado Paulo Viana, que era guitarrista no Praia de Vômito , está ajudando a desenvolver tudo. O que tem de especial nisso? Bem, ele ainda é uma das pessoas mais inteligentes com quem pude conviver. Tem momentos em que ele realmente assusta...

  RxTx (Fábio) - Em certo momento ao ler o texto em seu myspace me veio alguns autores que nos influenciaram bastante na montagem do blog, como o antropólogo italiano Massimo Canevacci e seu livro “culturas eXtremas – mutações juvenis nos corpos das metrópoles”. Afinal vocês apresentam um posicionamento ideológico anti sociedade burguesa, o capital e sua estrutura, mas sinto que também há oposição ao lado ortodoxo da dita esquerda, sem necessariamente apontar a uma dicotomia fixa. É por aí mesmo?
(Augusto Miranda...) Hmmm... sim, sim... Olha, como ainda cremos no que se tornou a máxima “invista de poder o mais ardente revolucionário e em menos de um ano ele se tornará pior até do que o próprio Czar” fica um pouco difícil e arriscado de pensar que a substituição de um Estado por outro teria um resultado positivo, duradouro e DIGNO! Mas, e sinto necessidade dum sonoro “MAS” aqui, não consigo me sentir a vontade com essa mera transposição da cisma europeia “Anarquismo x Comunismo”... Não sei se é infantil de minha parte, mas a coisa toda na América Latina se dá numa dimensão diferente de lá. Estranho pensar que suas soluções e propostas serão forçosamente às nossas soluções e propostas (sem desmerecer deles o contexto todo...).
É isso? Como no mencionado em “Encontro com Milton Santos”? Os “povos aqui do lado sul” vão mesmo meramente copiar o que há no norte? Se contentar em apenas reproduzir, mesmo que isso conduza a cismas pavorosas, e somente isso...?
E, comentando o que há de comum em todos os pontos que mencionou, são relações de Poder, e como em toda relação de Poder, estão permeadas de Violência, de dominação (“Might is Right” – “lei do Mais Forte...”, sabe?)... Murray Bookchin mencionou, não lembro onde (Nossa, que referência válida, não...? [risos]) que “Se o Poder existe, o Poder pode ser destruído...” – penso que é o mais acertado a se fazer...
De qual forma!? Ora, sejamos criativos e vivenciemos abnegação...

  RxTx (Fábio) - Quem costuma escrever as letras da banda? Vocês podem nos mostrar uma?
(Augusto Miranda...) Olha só, se nos permite, no momento dessa resposta não havia nada finalizado do que vai sendo gravado, pois, conforme se vai gravando a faixa, muitas idéias vão se formulando, enquanto podemos, vamos evoluindo isso. Óbvio que, assim que houver algo DEFINITIVO dessa faixa, ela estará disponível, só buscar na ‘biblioteca de Alexandria’ (Google...). Em geral, tem sido eu quem as transcreve, mas sempre surgem de consensos dos integrantes, assim como dou meus pitacos nos instrumentais – mesmo sendo minha musicalidade zero (risos)... Jamais assumiria esse tipo de situação (sei que nossas letras não vão tirar o pai de ninguém da forca, mas ainda assim, não quero assumir sozinho a isto... Me incomoda...)...

   RxTx (Fábio)- Estas são duas imagens associadas a elitização da educação. A primeira é da manifestação dos estudantes chilenos e a outra um grafite. Hoje com a educação cada vez mais cara, grande parte da população acaba não tendo acesso a uma faculdade ou mesmo tendo condições de terminar o ensino médio. Gostaria que comentassem suas perspectivas sobre ambos baseados nas duas imagens.
(Augusto Miranda...) Só uma menção tola: Eu daria um beijo na boca tanto do jovem confrontando o oficial da tropa de choque quanto de quem gravou o texto sobre a Educação na parede...
Não sei se minha perspectiva sobre isso vai ser de fato relevante, mas me agrada o tema, pois escolhi justamente a carreira docente, e isso como forma de prestar um desserviço tanto ao Estado quanto ao que há de vigente no setor privado... Temos um problema em vários degraus, ou, tratando-se de Educação (com “E” maiúsculo...), temos vários degraus e cada um deles abarrotado de problemas. Esbarramos por aqui (como no Chile) no problema do acesso a educação, e depois de muito sacrifício, quando conseguimos esse acesso, ficamos com aquela cara de “mas então é só isso?”... Me refiro aos propósitos a que a educação sempre vem se destinando: Meramente mercadológico, tudo é pr’uma linha de produção, ou pra ensinar o “ser sem luz” (uma das teorias para ‘Alumini = Plural de ALumnus = Aluno...’) a apertar botões dum headset e seguir orientações dum superior...
Veja lá, está em todos os anúncios de faculdades que se esbarre:
(quase sempre nessa linha)
“A sua vaga garantida no mercado de trabalho...”
“Você vai ser patrão ou vai continuar a ser peão...?”
Tenho martelado com meus amigos colaboradores da educação sobre (o que popularmente se conhece por professores e alunos). Muito mais importante que a educação, é a “auto-educação” (seu interesse, sua pesquisa, seus motivos...)... Se prepararia a pessoa para a vida e fatalmente ela estaria preparada para essa fatia mínima da vida que é o mercado de trabalho (não, não a creio tão grande quanto a supõem os barões das faculdades por satélite Brasil adentro...).
É incrível mesmo que visível a diferença que há na corrida dos alunos de escola pública para os alunos do setor privado no tocante à formação universitária. Os do setor privado não dão nem metade do suor ou preocupação dado pelos do setor público, pois estes, diferentes daqueles, enxergam em todo esse sacrifício as perspectivas dum futuro um pouco melhor...
Mas, dar autonomia a um povo vai ser um tiro na própria testa pra muita “gente”, muita mesmo...
Ansiamos por esses “tiros nas próprias testas...”

     RxTx (Fábio) - Pessoal agradeço bastante a entrevista, é muito gratificante encontrar pessoas sérias e de fato engajadas no underground. O que ainda faz com que este prazer de ouvir música seja uma atividade contestadora! Por favor deixem suas considerações finais.
(Augusto Miranda...) Se importa se nessas considerações eu continuar o assunto anterior...? (é uma ponte, na real...)
Veja um exemplo interessante: não me recordo de em meus ouvidos ter chegado, ou esbarrar em coisas por internet que envolvam vocês da “Resíduos...” em intrigas vãs. Qual a razão? Você sem se colocado num trabalho edificante, que solicita sua atenção, seu esforço, que será válido tanto a muitas pessoas, mas que antes de tudo, faz com que vocês mesmos cresçam!
Repito o que eu mesmo pus antes: A história não chegou ao fim. O Estado e seu gêmeo siamês, O capitalismo têm diversas faces. Muitas mesmo... O que temos de melhor a fazer que não estamos estapeando essas faces? Que festa eterna é essa que nunca nos sentimos confortáveis de pôr nossas arte e talento a disposição desses tapas na cara...?
Não é algo que tenha lançado a mais alguém que não esteja antes de tudo lançando a mim e constantemente.
Você é maravilhoso.
Um beijo, Fábio.

Um beijo nos Resíduos Tóxicos...


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