Golpe no Paraguai


Não que algum dia o imperialismo tenha deixado de existir, ou que o reflexo de seus interesses – o que culminou na nojenta guerra do Paraguai - tenham abrandado, mas, uma das grandes armas da direita sul americana durante esses anos após o final das ditaduras - que assolaram nosso continente e que foram apoiadas e mantidas pelos EUA, pelo liberalismo e por essa mesma classe média e burguesia que apoiam o que está acontecendo no Paraguai - foi argumentar que isso não passava de teoria conspiratória “esquerdista” contra o “maravilhoso capital estrangeiro que gera empregos e trás desenvolvimento”... Opa, estou sendo tendencioso e parcial. Chamem a Veja e Reinaldo Azevedo e seus leitores, minha perspectiva “esquerdista” atrapalha o desenvolvimento e a democratização do Paraguai que se assola pelo “vírus socialista”... Mi mi mi e blá blá blá...
Ironias em relação ao lixo de jornalismo marrom (ou amarelo e azul, como preferir) promovido em especial pela Veja e a Abril, este simplório texto visa dar uma ampliada nos horizontes sobre o que está rolando no Paraguai e dar uma rebatida nos argumentos, na verdade FALTA deles, que vocês verão na grande imprensa...


1) 1-O que aconteceu no Paraguai não tem nada de tentativa de golpe do Hugo Chavéz, russos, cubanos e socialista. O que houve no Paraguai foi uma “fritura” de um presidente que tentou seguir um molde meio petista de governar – Ou seja, fingir que faz programas sociais, sempre os voltando a inserção dessa população humilde ao capital, de forma a transforma-los em meros consumidores de produtos e não melhorando sua qualidade de vida. Agradando assim as elites, mesmo que pouquíssimas, com capital estrangeiro em mãos. Não funcionou. O Paraguai (107º no IDH) não tem essa economia sólida pra alçar ninguém a nada. A indústria nacional é quase insignificante – salvo as multinacionais como Coca Cola – e boa parte da população encontra-se em trabalhos semiescravos no campo. Não existe uma classe C ascendente como Brasil e Argentina. Não existe movimentos sociais sólidos como no Chile.
2) 2-Três interesses convergiram para a derrubada de Lugo: os interesses das transnacionais do agronegócio e do setor financeiro; da oligarquia latifundiária, aliada ao capital transnacional; e dos partidos políticos de direita. Todos apadrinhados pelos Estados Unidos da América do Norte. Os objetivos estratégicos são: reinstalação de uma “democradura” exclusivamente regida pela direita, com apoio dos EUA e alguns países europeus como nos tempos da guerra fria; encurralamento e criminalização da esquerda e dos movimentos sociais; avanço da produção meramente extrativista agroexportadora, com a postergação indefinida da industrialização do país; consolidação violenta do processo de esvaziamento do campo e sua população.
Enquanto a direita golpista sul americana vai à linha “Paraguai investiga Venezuela por tentativa de golpe militar” (como a matéria publicada na Veja 03/07/2012), podemos ver algo como o Brasil fazendo a função que havia sido designado pelo Império Britânico “um empório para as manufaturas anglo saxãs e celeiro dessas nações”. Sim, afinal, boa parte das terras do Paraguai se encontram nas mãos de latifundiários brasileiros...
Solano Lópes certa vez disse “morro com minha pátria!”. E era verdade. O ditador nacionalista, que muito fez pelo seu povo e que é moído nos livros escolares de países cuja educação é financiada por bancos – aqui no Brasil, por exemplo -, vê o país que tanto defendeu, inclusive com a vida, ser esmigalhado por interesses que tanto combateu... Oligarquias latifundiárias, capital transnacional e partidos de direita (leia-se neoliberais). Muitos camponeses fazem êxodo rumo ao Brasil em busca de venderem sua força de produção ao latifundiários do café e da erva mate.
O povo paraguaio sofre. Sofre até hoje pela subordinação brasileira e argentina ao banco de Londres. Sofre com a estrutura de grande produção agrária exportadora, cujo eixo de sustentação se apoia em três formas que combinavam e se complementavam: grande propriedade, monocultura e trabalho semiescravo. Sofre com os interesses capitalistas que estraçalham o país e seu povo como águias fazem com ratos... Como diria o saudoso uruguaio Eduardo Galeano:
“A tríplice aliança continua sendo um êxito total. Os fornos da fundição de Ibycuí, onde se forjaram os canhões que defenderam a pátria invadida, erguem-se num lugar que agora se chama “Mina –Cuê”, que em guarani significa “foi mina”. Ali, entre pântanos e mosquitos, junto com os restos do muro em reína, jaz ainda a base da chaminé que os invasores estouraram, há um século , com dinamite, e podem-se ver pedaços de ferro podre nas instalações desfeitas. Vivem, na zona, alguns poucos camponeses em farrapos, que sequer sabem qual foi a guerra que destruiu tudo isso. Todavia, eles dizem que lá em certas noites, escutam-se vozes de máquinas e trovões de martelos, estampidos de canhões e alaridos de soldados.”

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