Entrevista com o advogado Saulo Xavier! (AxTx)
RxTx - Primeiramente gostaria que se apresentasse para o pessoal que nos lê!
Saulo - Bom,
eu sou Saulo Xavier de Oliveira, advogado na cidade de Piedade/SP. Desde os
tempos do colegial e cursinho, observei que era possível acreditar em uma
sociedade mais justa e igualitária, isso se deve em partes a grandes
professores de história com sabedoria e visão de mundo sem igual como Sidnei,
Caca, por exemplo. Após o colegial, na ânsia de ingressar em faculdade pública
prestei FATEC e lá fiquei por menos de seis meses, não teve como continuar em
um lugar onde não é ensinado nada sobre justiça social, pior, os professores
descaradamente ensinam que produzindo grandes máquinas, será melhor para as
empresas, pois estas desligam ao final do dia e não pedem proteções
trabalhistas como o ser humano, confesso que voltava cada dia mais enjoado
daquele lugar.
Ingressei na
Faculdade de Direito, em cinco anos descobri a cada dia como amo isso. Se a
população tivesse conhecimento de todos seus direitos seria tudo bem diferente,
a classe dominante não imporia tanto. Tive o privilégio de fazer estágio na
Defensoria Pública onde pude trabalhar para os menos favorecidos, e se Deus
quiser um dia quero voltar para lá em definitivo como Defensor Público.
Hoje, como
advogado, sigo lutando pelo bem estar social, pela justa aplicação da
Constituição, sendo a de 1988 a melhor e a mais voltada para o social que o
país já teve, porém ainda há muita, mas muita coisa ainda para ser colocada em
pratica. Essa é a luta diária, apesar de a profissão não ser bem vista por
muitos, recebendo o advogado diversos adjetivos pejorativos, isso não me abala,
pois sei pelo que venho lutando, que é o bem estar social, principalmente da
classe mais baixa. Alias, a má visão do advogado tão difundida em sites de
humor e pela mídia, somente favorece os opressores, visto que instiga os
oprimidos a não buscarem seus direitos.
RxTx - Saulo, seu tcc aborda um debate
que com certeza interessa a muitos que é a questão da redução da maioridade
penal fale-nos um pouco sobre seu trabalho.
Saulo - No tcc
busquei demonstrar que a redução da maioridade penal é uma medida paliativa, e
que há outros meios de combate a criminalidade infinitamente melhores que esse,
como por exemplo o acesso a educação de qualidade para toda população. Acredito
ter alcançado o objetivo, pois graças a Deus, o trabalho levou nota máxima e permaneceu
na Faculdade para pesquisa.
Tentei
demonstrar que ao reduzir a maioridade penal para os dezesseis anos serão
buscados jovens com menos dessa idade. Na verdade, o que os jovens precisam
para não ingressarem no submundo do crime são melhores oportunidades. Conversei
com educadores, diretores, coronel da policia militar e até mesmo com o
prefeito da cidade que também é educador, para explicarem o atual sistema
educacional, como funciona o policiamento nessa parte e o que os municípios vêm
fazendo para os jovens não ingressarem nesse mundo sem volta do crime.
Além do mais,
expus que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê punição aos
menores que cometem infração penal (nome que recebe os crimes cometidos por
menores) e expliquei detalhadamente cada uma das infrações, visto ser o ECA
reconhecido por grandes estudiosos do mundo inteiro como uma das melhores
legislação do mundo, não devendo ser mudado em nada, apenas colocada em pratica
em todos seus termos. Ainda ressaltei que a maioridade penal é cláusula pétrea
(artigos da constituição que por garantirem direitos e garantias da pessoa
humana não podem ser mudados).
Enfim, quem
almejar ter acesso ao tcc pode entrar em contato comigo: saulo-xavier@hotmail.com e saulo-xavier@adv.oabsp.org.br.
RxTx - Recentemente alguns
levantamentos estatísticos do IBGE e de outros sensos nos refletem bastante a
história da abolição da escravidão, mas a exclusão monstruosa que se promove
nesse país para com a maioria negra e “parda” da população. O discurso de
defensores da redução em relação à maioridade penal se aproxima bastante de um
racismo disfarçado de “insegurança”, não?
Saulo - Com
certeza, os defensores da redução da maioridade penal buscam permanecer nessa
zona de conforto, defendendo que com a redução, em um passe de mágica estaria
resolvido o problema da criminalidade praticada por menores. Misturam as searas
eleitoral e a criminal, alegando que se os jovens podem votar também podem ser
presos. Não há ligação alguma entre e a capacidade eleitoral, onde a criança
tem desde a primeira série para eleger seu representante de classe, com a
imputabilidade, que é a capacidade do agente de entender o que está fazendo e
agir contrariamente a esse entendimento.
Os
“inseguros” defensores da redução da maioridade, não buscam soluções
verdadeiras para a redução da criminalidade, pois é um tema muito delicado e que exige estudos mais aprofundados para que
se busque soluções completas e não apenas medidas peliativas.
Sobre a
população negra é claro que ela é maioria tanto no cometimento de crimes como
de infração penal ( crimes cometido por menores), isso se deve ao fato de ser a
população mais pobre. Antes de vir o preconceito escroto (me perdoem a palavra)
deve ser observado que a os piores ladrões, de milhões de reais, que roubam
dinheiro que poderia ser aplicado em benefício da população, são os grandes
empresários, banqueiros e deputados em sua extrema maioria branquelos.
RxTx - Por favor, explique, a posição
do judiciário a respeito do tema é qual?
Saulo - Infelizmente,
a grande maioria dos integrantes do Poder Judiciário são favoráveis a redução
da maioridade penal. Acredito que isso se deve ao fato de os juízes de agora
serem filhos de uma época em que apenas os mais avantajados faziam faculdade,
época em que as universidades eram privilégio da classe alta (de filhinhos de
papai). Certamente com a atual política onde o pessoal da classe baixa pode ter
acesso a faculdade, as pessoas dessa classe chegarão ao judiciário, e assim
teremos um judiciário com mais visão de mundo, que sinta melhor a realidade do
povo não só no aspecto da maioridade penal como em todos aspectos.
Porém o Poder
Judiciário não pode legislar, e mesmo não concordando com a maioridade os
juízes são obrigados a aplicar a lei.
RxTx - Vivemos um momento histórico
que tem sido analisado por pensadores como Giorgio Agamben, como um dos mais
totalitários travestidos de democracia. Somos livres para o consumo, mas é
pedir condições de vida nas ruas e a polícia oprime, isso quando não vemos um
Pinheirinhos ou Cracolândia da vida serem estraçalhados por interesses de
acumulo de capitais... Apesar de todas essas vidências sinto a área jurídica,
inerte. Com poucos se manifestando a respeito de forma que não seja a exaltar o
poder opressor ou defende-lo... Salvo raras ou específicas exceções... A que
você atribui isso?
Saulo - Na
verdade, o Poder Judiciário deve ser inerte e precisa ser acionado para sair da
inércia. Porém, infelizmente quando acionado, em sua maioria das vezes prefere
julgar a favor dos mais favorecidos, principalmente em primeira instância, por
sorte há julgadores com mais visão de mundo em segunda instância e que mudam o
julgamento dado pelo juiz singular, em sua maioria medrosos e voltados para os
mais favorecidos. (Juízes de primeira instância= da cidade, que julga sozinho.
Juízes de segunda instância= do Estado, que julgam em três que podem modificar
ou não a decisão do juiz da cidade).
Casos como o
de Pinheirinhos demonstram que os interesses dos mais favorecidos infelizmente
se sobrepõem a tudo, vivemos em uma sociedade onde o dinheiro compra tudo e a
todos e é demonstração de poder.
É claro que o
direito de propriedade é garantido pela Constituição Federal, porém deve ser
visto em conjunto com o direito a moradia, e principalmente pelo principio
maior da constituição, qual seja o da dignidade da pessoa humana.
No caso
pinheirinhos, se existia o direito a propriedade, muito mal explicado por
sinal, também é certo que havia dezenas de família que foram despejados como
animais, e a sempre truculenta policia militar agiu com a brutalidade de sempre
(falo com conhecimento próprio, fui temporário por dois anos dessa instituição).
O código de processo civil em seu artigo 924, estipula que a pessoa que tem sua
propriedade invadida pode ser reintegrada imediatamente se ingressar com o
pedido em até um ano e um dia. Quem defende apenas sua propriedade pede logo a
retirada do invasor, não deixa chegar a ponto de ter diversas famílias no
local.
Além de muito
mal explicada, o caso pinheirinhos teve diversos erros jurídicos, tudo em
interesse dos poderosos. Confesso que pela primeira vez na vida, e também única
vez, tive vergonha de ser operador do Direito (gente que faz do Direito sua
profissão). Porém, ao contrário do vendido juiz que passou por cima de todas as
leis e fundamentos jurídicos para expulsar a população pobre do local, ressalta-se
que esse juiz é irmão de um deputado da direitona, posso garantir que jamais
serei vendido e minha batalha será eterna na busca da justiça social, pela
aplicação das normas constitucionais e pelo bem estar da população,
principalmente da classe baixa.
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