Maus – Art Spiegelman
“A gente separava os
corpos com ganchos. Pilhas grandes. Os mais fortes em cima e os velhos e bebês
por baixo com os crânios quebrados... Os dedos quebravam ao tentar subir pelas
paredes e uns braços ficavam do comprimento do corpo, desencaixados das
juntas.”
Como fã de quadrinhos e de leitura seja ela acadêmica ou
ficção, eu já havia lido alguns títulos bem comoventes... Mas nada parecido com
“Maus”. O presente de aniversário dado pela minha namorada foi devorado em 3
dias. E mexeu profundamente comigo... Foi um balde de realidade do qual às
vezes busco me isentar através do escudo de infantilidade e da utopia de poder
mudar o mundo para algo melhor... =/
A cada página da narrativa de Vladek (o pai do autor de tal
obra), é um momento de ansiedade, desespero, tristeza... Ao mesmo tempo usufrui
de uma metáfora que remente bastante a Orwell: animais simbolizando pessoas: Os
Ratos são judeus, os Porcos os poloneses, Gatos são os alemães, Ursos os
russos, Sapos os franceses, Estadunidenses os cães e por fim os ciganos Traças
e Mariposas... Cada escolha está envolvida de um signo de um contexto. Por
exemplo, além de “Maus” ser rato em alemão, Spiegelmen os usa para fazer uma
metáfora com a perspectiva nazista de que judeus eram como pragas...
Não sei se é por lecionar a crianças, se é por buscar
exaltar esse lado em mim o tempo todo ou se é porque ainda não sou “fortão”/ "truezão" para
“ver cenas mais brutas” e exaltar minha virilidade na web (desculpem-me o
sarcasmo, mas sinceramente não vejo idiotice maior disfarçada de um discursinho
apático-piegas buscando exaltar o macho alfa, enfim) de... Mas o ponto mais pesado
para mim e que não sei de minha cabeça foi à morte de Richieu o menininho e
primeiro filho de Vladek com Anja. Intragável para este que vos escreve. E
confesso, me segurei com toda minha virilidade pra não chorar, então me
emburrei e me fechei, desabafando apenas ao escrever esta resenha.
Eu esperava algo na linha tradicional de um debate histórico
a respeito do contexto sócio-político da segunda guerra... Mas não... Temos a
história de uma vida, narrando tantas outras de forma tão humana... Transcende
totalmente a típica narrativa feita no pós-guerra. É muito emocionante!
Não gostaria de entrar em muitos detalhes além dos já
oferecidos, mas fica indicado como um clássico da leitura indicado para
qualquer ser cujo cérebro e a autenticidade não tenha sido corrompido por
discursos acéfalos de politicamente incorretos “é engraçado fazer piadas
nazistas”. Não, para sua tristeza meu amigo pseudo-conservador (porque garanto
que sua base de leituras não serve nem para enquadra-lo nisso) não é. Aos
demais... Gostaria de compartilhar essa experiência única... Sufocantemente
reflexiva... E Libertadora!
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