Seminário "Como as empresas se beneficiaram e apoiaram a ditadura"

No sábado, dia 15/03, tivemos a oportunidade (eu e a Keyla) de irmos ao Seminário "Como as empresas se beneficiaram e apoiaram a ditadura" que aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo. Apesar do tema muito nos interessar, não dá para ir sempre dado a gastos e outras coisas... Mas nos viramos e demos um jeito de até São Paulo, junto com nosso amigo e colaborador Oswaldo “Duco”. Bom, mas vamos direto aos documentos e informações levantadas e averiguadas.
Durante o seminário ouvimos nomes importantes do sindicalismo, da política e da acadêmica, o que acabou gerando uma variedade de informações muito rica. O termo ditadura civil-empresarial-militar foi citado pelo deputado Adriano Diogo (PT), e mesmo que um termo para o momento, foi extremamente oportuno. O interesse das multinacionais e o caráter imperialista do golpe, que nada tinha de patriótico, muito são conhecidos e debatidos. Mas a citação, com provas, do envolvimento de uma série de empresas que continuam ativas até hoje... Bom isso eu confesso que algumas foram novidade. Quanto ao envolvimento da multinacional General Motors, nenhuma surpresa. Doações de equipamento de tiro (fones) para os militares, e até visitas do presidente da empresa o DOPS e OBAN. E a Cofre Bernardino que contribuía com os forros metálicos dessas salas de tiro. Para quem gosta de futebol, o antigo estádio do Botafogo do RJ, o Caio Martins foi usado para colocar presos, mais de 180 ficaram instalados no estádio... Coincidência? Mais adiante Pedro Campos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, falou de seu trabalho de doutorado sobre a ligação fortíssima das empreiteiras com o regime. Contribuições com projetos em troca de cargos e funções relevantes. Não precisa nem dizer que hoje o setor de construção civil é absurdamente um monstro de nossa econômica... Pois sua consolidação se encontra justamente na ditadura. Quando falamos em vítimas dos militares, normalmente se vem na cabeça, presos e torturados... Mas a questão da segurança do trabalho e o abafamento de mortes foi outra grande contribuição para a consolidação desse ramo empresarial. Vou explicar com dados do professor Pedro Campos.
Em 1975 estima-se mais de 5mil mortos no ramo da construção civil! Isso, é um genocídio. Pensem que como bem destacou o sindicalista Geraldo Cândido, estamos falando de dados de apenas 1 ano e de um ramo da indústria ligada ao regime! Além disso, para se ter uma noção do poder desse setor, Adolfo Lindenberg, com sua construtora e empreiteira, chegou a ser chanceler de assuntos internacionais na África... Muitos brasileiros foram para lá enviados... E desapareceram... Era mais barato deixar um empregado morrer. O sindicalista, Gilson Araújo traz logo em seguida dados sobre as empresas de frigorífico e as coisas são mais assustadoras. Envolvidas com latifúndios e massacres de populações camponesas (fala-se em mais de 900 mortos no campo para a apropriação dessas terras por essas empresas), Sadia, Perdigão, Frigorífico Swift Armour (que pertence atualmente ao Grupo KN e está sendo demolido para construção de um parque industrial em Santana do Livramento- RS, o grupo do frigorífico, para variar, é estadunidense, e há alguns relatos e até documentários que esse grupo teria convidado Hitler a vir morar no Brasil), o protótipo da Friboi também foi citado pelo sindicalista. O que também nos trouxe a lembrança e a conexão do porque o “rei” Roberto Carlos, cuja ligação com regime também é conhecida, abandonou alguns de seus ideais voltados a questão animal para fazer propaganda dessa empresa... Coincidência? Ah e a queridinha rede Globo? Há um tempo soltou uma notinha picareta na web falando algo como “acho que erramos ao apoiar os militares, mas fizemos isso para evitar um golpe comunista no Brasil”. Até a Constituição Federal foi alterada para que esta pudesse receber capital estrangeiro...
Militares torturadores, hoje se encontram promovidos a delegados, investigadores... Caso relatado por Ivan Seixas, que foi torturado e teve seu pai morto pelos milicos, sobre Carlinhos “Metralha”, que hoje é delegado em SP. Quantos Ustras ainda são e serão heróis? Assassinos exaltados pela sociedade burguesa, mas sujos com sangue de trabalhadores, estudantes... Gente que realmente lutou por algo que valia a pena. Assim como os dias atuais a PM continua seu genocídio em nome dessa mesma classe média pelega que sacrifica Amarildos, meninos Douglas, Claudias... Sendo somente investigada e julgada por tribunais militares, o que com comum frequência leva a absolvição. Outra herança dos militares. O desavisado pelego que estiver lendo isso já deve estar vociferando que isso é vingança contra empresas honestas que construíram patrimônio com trabalho, que nós somos comunas caviar, que a ditadura não era corrupta igual ao PT, que só arrancou umas “unhas”, que o João Goulart estava dando golpe comunista e o povo era contra... Bom vamos a mais dados. No instituto GALLUP, estima-se, pouco antes do golpe o então presidente possuía uma aprovação de cerca de 70% e seus projetos de reforma de base cerca de 60% a até 70% de aprovação. O que consolida ainda mais que o golpe fora orquestrado pelos setores da elite que tanto temiam as eleições de 66 e a fortificação da esquerda brasileira. Essas afirmações, desse medo das classes dominantes, estão vindo a tona com um achado da professora universitária, autora do livro “Propaganda e cinema a serviço do Golpe (1962/1964)” Denise Assis. A pesquisadora, contrariando os desejos desses setores que tanto tentam engessar suas pesquisas, localizou cerca de 14 filmes produzidos em 62, portanto antes do golpe, que clamavam às classes médias se unirem contra a “ameaça comunista”. Com financiamento de grandes empresas do Rio e do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais), os filmes faziam apontamentos de problemas sociais como estradas ruins, falta de hospitais e crises na educação... E articulava que isso seria responsabilidade, não da histórica corrupção desse estamento composto por empresas e políticos a elas ligados, mas sim ao governo Jango. Clamavam por coisas como voto consciente. Papagaiada sobre a esquerda. Fora corruPTos. Coisas que vemos em redes sociais todos os dias... Mas que a comissão vem mostrando com base em documentos e trabalhos acadêmicos e não em gritaria e achismo, que não passam de falácia de grupos sociais que se escondem na inércia. O golpe da classe alta deixou vestígios. Amigxs, colegas de profissão (professorxs) e grupos inteiros sociais ainda prendem-se em uma série de ilusões quanto ao golpe e conceitos abstratos sanguinários de democracia e mudança social. Claro, porque enquanto é o sangue de pobre, negro, mulher, pode...
Outras empresas ligadas ao regime que foram citadas na comissão: - Refinaria União. - Ultragás (através de seu ex-presidente e também fundador do centro de Integração Empresa Escola, o dinamarquês Henning Boilesen). - Light [a empresa multinacional de eletricidade que também teve o nome de “The São Paulo Railway, Light and Power Limited” e que em 96 foi vendida através de leilão para as multinacionais EDF (França) e Houston Industries e a AES (ambas EUA).] Os livros dos professores Denise Assis (cita mais 27 empresas envolvidas) e Pedro Henrique (em seu trabalho sobre as empreiteiras chega a falar em “ditadura das empreiteiras”), completam trazendo uma lista ainda maior. É preciso cobrar tanto pelos assassinatos, quanto perseguições, ameaças, desvios de dinheiro, crescimento com favorecimento com até mudanças na legislação...

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